Fluir – A Ancestralidade da Água

Sabemos que a água que existe no planeta Terra, é a mesma que nossos antepassados utilizaram no seu dia a dia, para seus rituais e para o crescimento de todas as civilizações. Se a água flui, mesmo com todas as intempéries que sofre, podemos então aprender com a mesma à superar momentos, adaptarmos e quem sabe transmutá- los. 

Água morna que aquece o coração, silencia e acalma. Ministrada com ervas que de forma terapêutica, realizam resgates de emoções sutis e agem de forma a equilibrar nosso emocional, com a sutileza que se faz necessária. 

Nas crenças e nos ensinamentos populares podemos resgatar o conhecimento ancestral e nos conectarmos com essa forma sutil de encontro com nosso íntimo e com nossa transcendência. Os mitos, crenças e símbolos, estão empregados de conexões, basta analisarmos com um olhar gentil e absorver essa inspiração. 

Com açúcar, quantas vezes ouvimos, que precisamos nos acalmar e que essa combinação auxilia nos momentos mais difíceis ou tristes. Normalmente quando recebemos uma notícia com a  qual sofremos um grande impacto, nos oferecem um copo de água com açúcar, uma forma de digerirmos essa notícia incômoda. 

Já ouvimos também que precisamos de água com sal – um belo banho de mar, aquele que renova as energias, liberando sentimentos de renovação ou transformação. Algumas crenças, nos ensinam que a água do mar, limpa as energias sutis, retirando as impurezas e recarregando as energias. 

Já outros nos falam de água gelada, um banho de cachoeira que nos eleva a esse encontro mágico conosco e com a natureza. Trazendo nosso encontro com a coragem, de enfrentar uma água tão gelada e algumas vezes profunda. Funcionando muito bem, para nos liberar, perdemos um pouco do controle,que imaginamos ter. 

Como podemos notar a água ficou bem simbolizada com fluidez de sentimentos, renovação de energias e conexão com nosso aspecto espiritual. Talvez pelos diversos contos, das mais diversas religiões que nos apresentam a água como uma fonte de limpeza, purificação e até como uma forma de renascimento. 

Sarasvati, a representação feminina da Criação – Brahma, representa todo o conhecimento e que flui, ou seja transmite o conhecimento através da boca do mestre ao ouvido do discípulo. Fortemente ligada a água, pois nos Vedas, está descrita como o Rio Sarasvati, a que cuida e dá vida, que renova e purifica. 

Prakriti – Tudo era água, o ínicio de tudo, a criação, transformação, transmutação; representando a mais diversas possibilidades, se por um lado é a origem da vida, ela também é a que flui, que nos transporta de um estado a outro. 

Jesus: “Se alguém tiver sede, que venha a mim e beba”, nos apresenta a vida, a renovação, o nascimento. Entendemos com isso, que ela nos transporta a um útero, que nos acomoda e nos transporta a um nascimento verdadeiro. 

A 13ª letra do alfabeto hebraico é chamada de “Mem” e tem o som de “m” , com alusão a Mãe e simboliza a primavera na Torá; está vinculada ao conhecimento divino, estando portanto ligada ao conhecimento.   O útero materno, aquecido e promovendo a transcendência. O criador, sem a água da primavera, não temos as flores e seus frutos, a vida não se renova e abre caminho ao novo, tudo fica parado, sem a fluidez que é necessária para nos conectarmos conosco e com o todo. 

Na umbanda ela está fortemente ligada a diversas entidades femininas, com isso nos remete novamente a criação, fluidez e criatividade. Afinal são aspectos do arquétipo feminino. Sendo também muito utilizada em seus ritos, com a ideia de que a água absorve e acumula vibrações e pode recarregar as energias sutis. 

Diversas religiões a utilizam em seu batismo, simbolizando o nascimento da pessoa para aquela religião e sua conexão com seu Deus. 

Como quase todos os símbolos, apresenta uma dualidade em sua apresentação, então ela pode ser a criação pureza e fluidez, como também representará a destruição.  

Ela pode destruir ou engolir, com isso entendemos que ela transporta também uma força maléfica. Uma água calma pode abrigar o desconhecido, já as agitadas abrigam o caos. 

No movimento chinês, água em seu aspecto YIN, é medo, paralisa, medos extremos, podemos entender com esse movimento, que seria a água saindo das profundezas, brotando e saindo dos locais mais profundos e ressurgindo como uma fonte de limpeza, transformadora e criadora. E claro que esse movimento é assustador ou até mesmo paralisador, afinal ter contato com nosso medos mais profundos, não é uma jornada confortável. 

Os chineses antigos, se referiam a água como o caos, a incerteza e confusão. Ou seja um infinito de possibilidades, de manifestações, da falta de controle, pois a mesma água que brota da terra, alimenta os rios, cachoeiras e mares, temos contato com aspectos mais animadores e outros assustadores. 

Se a água simboliza vida, ela também representa os medos que vamos absorvendo durante a existência. 

Ela também pode ter a dualidade masculina e feminina. Representando o masculino como semente (chuva), que fecunda a terra, o verbo gerador de vida, força vital. Já no feminino temos contato com a pureza, na fluidez, no útero, da que transforma energias, que realiza o resgate, nutre e alimenta, aspectos femininos tão profundos, que devemos fazer esse resgate ancestral. 

Se entendemos que para uma vida/jornada plena, temos que equilibrar os mais diversos aspectos, acredito que a água pode ser utilizada em diversas técnicas terapêuticas, para transcendência e encontro com seu íntimo. 

Água ligada às emoções, podemos interpretá-las via sonhos, Jung nos informa que os sonhos são muito mais que só emoções reprimidas, mas que pode ser outra forma de nos transmitir o inconsciente. Então se a água do sonho, for representada como uma água de banheira morna, água fervente, água gelada ou até de mar, podemos entender suas emoções acerca de algum aspecto de sua vida ou de uma situação que lhe trouxe prazer ou dor. 

Ancestralidade, é o durável, persistente e participante do eterno. Resgatando os ensinamentos e fluidez da água, auxiliaremos no equilíbrio, resgatando emoções e recolocando as mesmas em outros aspectos, transmutando a jornada, numa jornada leve e fluidica. 

Fabiana Vieira

Setembro/2018

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